Foi-se o tempo em que liderança poderia ser apenas um conceito. Cada vez mais as gerações entram no mercado de trabalho em busca muito mais que um salário: precisam encontrar ambientes onde cresçam , se desenvolvam e que onde seus valores sejam considerados.

Além das diferença entre os conceitos de líder e gestor, existem diversos tipos de lideranças, que exigem de cada profissional um conjunto diversificado de habilidades e competências, que vão desde inteligência emocional, capacidade de gerenciar conflitos, resiliência, adaptabilidade até uma das principais delas: a de saber se comunicar e construir relações.

Sim, pois sem comunicação o líder não será capaz de atuar na plenitude do seu papel. Quando falamos de comunicação e liderança, precisamos analisar a mudança que ocorreu no papel do colaborador.

Contexto Situacional

Se, antes, falávamos de comunicação interna como o fluxo de mensagens e trocas entre corporação e funcionários, em um cenário de empresa fechada, com muros, com o advento das redes sociais, pode-se considerar que não há mais interno x externo. Toda comunicação tem potencial para viralizar, vazar, ganhar o mundo além dos muros da empresa.Por outro lado, mesmo que houvesse alguma forma de isolar essa dimensão da comunicação  no intramuros, os colaboradores sempre trariam seu contexto sociocultural, visões de mundo e valores. As bordas da empresa sempre foram porosas e agora existem grandes vias, digitais ou não, nessas “fronteiras”.

O colaborador, passivo na “comunicação interna”, quer cada vez mais ser sujeito atuante dos processos e ter sua voz de funcionário que exerce múltiplos papéis sociais valorizada.  Então, passamos a falar em “comunicação estratégica com funcionários”. Essa comunicação só será efetiva se for construída uma cultura de segurança e acolhimento de sugestões e críticas que entrem em divergência com a visão da alta gestão. Cabe ressaltar que familiares e associações setoriais são influenciadores importantes nesse diálogo estratégico entre a organização e seu capital humano.

Diante desse colaborador que é produtor de conteúdo, multimídia, antenado, ser líder se torna mais desafiador. É preciso ser capaz de ouvir,  decodificar, ser empático e estar disponível.

Desenvolver equipes inovadoras, comprometidas, de alto desempenho exige construir e compartilhar uma visão de futuro, identificar os as potencialidades (hard e soft skills) de cada membro da equipe para distribuir responsabilidades e metas.

A Comunicação para a Liderança não se restringe às ferramentas clássicas como murais, cartazes, e-mails, relatórios, eventos, intranet ou quaisquer outras plataformas típicas. As pessoas são canais de comunicação vitais. É por isso que a comunicação deve estar alinhada com os valores, as narrativas e as atitudes da marca para ser capaz de criar e usar key messages.

A liderança empática irá transitar entre o seu papel de gestor (foco nos resultados), o de mentor (ênfase nas pessoas) e o de administrador (direcionado aos processos, à operação), tendo a comunicação como eixo comum. A competência comunicativa será usada para co-criar, estimular alto desempenho, desenvolver as competências, dar feedback, distribuir tarefas, acompanhar resultados, treinar a equipe ou gerenciar o clima e a cultura organizacional. A empatia, nesse processo, é um ponto chave para a liderança nas próximas décadas. Ser empático, capaz de se colocar no lugar da outra pessoa, compreendendo seus sentimentos, modo de ser e de ver do mundo, ou seja, seu mapa mental adensará os efeitos positivos e reduzirá os riscos.

O feedback, por exemplo, precisa ter objetivo claro, linguagem adequada, local apropriado, narrativa pertinente e a frequência específica. A linguagem é tão importante quanto o conteúdo. O feedback  precisa ser adequado ao estilo de interação do interlocutor. O feedback, seja corretivo, de desenvolvimento ou de valorização (elogio), deve ser pensado de forma a deixar muito claro o tema, o objetivo e o que se deseja que seja feito a partir daquele momento.

Avalie que tipo de linguagem será mais adequada ao perfil de cada colaborador. Encontramos, de forma recorrente, 5 estilos narrativos: desafio/superação, suporte (fazer junto), causa e consequência, mérito/valor, compromisso/espírito de equipe. Ao escolher uma das 5 linguagens, fique atento ao perfil geracional. Os Baby Boomers gostam de estabilidade. Entendem e preferem hierarquias e regras claras. A Geração X, de forma geral, busca melhores oportunidades e crescimento na carreira. Aceitam desafios/sacrifícios em função dos resultados Os Millennials, por sua vez, querem realização pessoal e flexibilidade. Acreditam em propósitos de vida. Querem ser tratados como iguais. Não acreditam em hierarquias ou antiguidade. Querem desafiados. Gostam de construir projetos, inovar e colaborar. Ao escolher a forma/linguagem do Feedback, tenha essas duas dimensões em mente: as linguagens e as características geracionais.

Liderar pessoas inteligentes, inovadoras, com alto desempenho exige a gestão da cultura da organização ou setor. A coerção é um instrumento a ser evitado, fortemente. Use a persuasão, trabalhe os símbolos, os heróis, os rituais e as narrativas organizacionais para estimular a participação e valorizar as contribuições individuais. No dia a dia, o líder de alto desempenho deveria adotar estratégias de gestão dos relacionamentos, tanto quanto o instrumental técnico, os KPIs operacionais.

Golden Circle

Todo ato de fala, mesmo que informal, deveria ter um propósito claro, uma estratégia (linguagem e sequência), bem como um conteúdo pertinente aos efeitos desejados.

As palavras têm o poder de construir grandes relações ou de criar climas organizacionais tóxicos. Tome cuidado tanto ao criticar quanto ao elogia. As duas medidas qualitativas devem ser usadas com parcimônia e adequação (momento, local, linguagem e propósito)

O Fórum Econômico Mundial, em seu relatório sobre o futuro do trabalho (The Future of Jobs Report), ao comparar as habilidades mais importantes em 2015 e as projetadas para 2020, listou 10 soft skills. Os conhecimentos em programação, algoritmo, tecnologias ou quaisquer outros hard skills foram entendidos como essenciais, mas secundários. As tecnologias atuais avançarão e serão substituídas por outras ainda nem pensadas. A Flexibilidade Cognitiva (décima habilidade) é essencial por isso. Estamos em uma ambiente volátil, líquido ou, se você preferir, um Mundo V.U.C.A.: Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity (em português: volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade). É um ambiente de transformação contínua. Ao olharmos com mais atenção as 10 habilidades, poderemos perceber que são destinadas a todo e qualquer profissional, mas com forte impacto sobre líderes e à capacidade de lidar com pessoas. A comunicação é um elemento transversal e indispensável a quase todas as habilidades. Em verdade, a todas, mas para algumas é um elemento residual. A construção e a gestão de boas relações, que sejam criativas, saudáveis e promovam o Alto Desempenho Harmônico, equilíbrio entre trabalho e vida privada, é ponto crucial. Para isso, a Empatia é um tópico que vale destacar, como mola propulsora de uma gestão com base em uma cultura inovadora e humanizada que propicie um ambiente colaborativo.

Canais sensoriais: VAC.

Ao sermos empáticos em nossa gestão e na comunicação, cabe entender o perfil cognitivo das pessoas e tentar usar, na linguagem, na fala, e na escuta ativa o V.A.C.. Cada indivíduo tem um canal prioritário de interação com o mundo. Alguns são mais visuais, outros mais auditivos ou mais cinestésicos. Se formos capazes de entender qual é o canal principal de nossos colaboradores, poderemos articular nossa fala, tendo atenção aos elementos linguísticos que tornarão a comunicação mais clara, impactante, precisa e estimulante. Sugerimos falar COM as pessoas, ao invés de falar PARA as pessoas. Ou seja, construindo pontes. Colocando em cena elementos culturais e cognitivos comuns.

Vale pensar com atenção, as regras de engajamento para todas as cerimônias corporativas em que você participar, como líder. Qual é o canal mais adequado? Quem deve participar? Qual é o papel de cada pessoa convocada? Qual será o tempo, o propósito e o entregável de cada cerimônia? Quais são as regras de fala durante a cerimônia? Vale pensar como um agilista: de forma flexível, adaptável, como foco no cliente final e os participantes da interação. Ou seja, ser um bom líder é ser um bom Líder Comunicativo, Empático. Só assim você terá um alto desempenho duradouro, sustentável e harmônico.

Eduardo G. Murad & Isabela Pimentel

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